sábado, dezembro 12, 2009

O Pablo, o bongô e a cueca

O morador do quarto andar toca bongô. O fato de ele tocar bongô não é estranho. Estranho é o fato dele tocar bongô de madrugada. Parece um terreiro de candomblé. Nada contra candomblé, mas terreiro num prédio é completamente fora dos padrões atuais! Ou estou desatualizada?

Sei que o apartamento dele tem as mesmas (minúsculas) dimensões do meu (quarto/sala/cozinha/banheiro). Só atende às necessidades de, NO MÁXIMO, duas pessoas. Quando muito três, e esta terceira tem que dormir na sala. E é o que acontece quando recebemos visitas.

É difícil dormir aqui porque somos vizinhos da 23 de Maio e nosso quarto tem janela anti-ruído, logo, se algum morador fizer um barulho muito alto no seu apartamento, você ouve o barulho quadruplicado dentro do quarto. Na verdade, parece que você está dormindo dentro de uma caixa acústica.

Mas, voltando...

Então. O Pablo toca bongô de madrugada.

O Pablo toca bongô de madrugada durante a semana!

Bom, da primeira vez, era um barulho chato, um falatório. Interfonei na portaria:

- oi, Manuel, está tendo festa no prédio?

- tá sim, dona Luciana.

- então, você pode pedir pra que façam menos barulho?

- sim, dona Luciana.

Certa de que iriam respeitar as regras de todo e qualquer condomínio, voltei pra cama e fui tentar dormir.

Daqui a pouco... TUM TUM TUM TUM TUM!!!!

Sentei na cama e meu cabelo vibrava! O meu cabelo vibrava! Sentia-me como no desenho do Pica-pau com a porra da torneira que não fecha, que na verdade fecha, mas pinga, incessantemente, e ele quase morre, num surto de loucura, quase roxo de tanto sono, embriagado de tanto barulho, que no começo parece um tim tim tim discreto e depois começa a fazer tom tom tom e em seguida passa pra um TUM TUM TUM impossível de ser tolerado, até mesmo pra quem toma remédio tarja preta pra poder dormir. Parece que tem uma fanfarra na sua casa. Senti-me assim.

- Meu, não é possível! Este cara vive do quê? Será que ele não tem que acordar cedo? Será que toca em festa rave e tá ensaiando? Meu, que horror!

Liguei de novo pra portaria:

- Manuel, o que tá acontecendo? Onde é essa festa?

- É na casa do Pablo, dona Luciana.

- Então, quantas pessoas estão na casa do Pablo?

- Ah, umas 30...

TRINTA??? 30 pessoas dentro de um apartamento quarto e sala? TRINTA? Surtei! TRINTA??? Desliguei indignada. Vou chamar a polícia se esta merda de barulho não parar, eu tenho que fechar uma revista amanhã, porraaa!!!

Meu, foi revoltante.

Mas o Manuel, grande salvador da noite que foi, conseguiu impedir que eu chamasse a polícia e transformasse o prédio no treme-treme da Paim, pedindo pelamordedeus pra que o Pablo parasse de tocar bongô.

Passou uma semana. Quarta-feira, novamente.

Falatório, pessoas com bolas de ferro amarradas ao tornozelo, de tanto barulho que faziam, desta vez uma música trance, até que legal, mas pra quem tá numa festa, claro, não pra quem tá com a cabeça cheia de barbitúricos, tentando dormir.

- Não dá, eu vou ver onde é esse barulho.

Levantei, coloquei o vestido e fui zanzar nos corredores do prédio feito uma doente. Até aqui, eu não sei em qual andar o Pablo mora, porque eu nunca me interessei em saber o nome dos moradores, na verdade eu nem tenho tempo pra isso.

Cheguei no quarto andar. Um cartaz com uns dizeres malucos escritos com uma tinta fosforescente, uma luz vermelha na porta do 44 e um cheiro de canabis no corredor. Pensei: só pode ser aqui! Mas o barulho não vinha do 44 e sim do 41 que tem a mesma dimensão do meu. Bom, na hora constatei que no 4º andar só tem DJ de rave, não é possível!

Reclamei, desta vez o Pablo tinha recebido SÓ dez pessoas na casa dele. UFA! Coitado do apartamento!

Mas é claro que teve uma repercussão. No dia seguinte reclamei pro zelador e o mesmo me disse que a síndica também ouve os barulhos do 4º andar, mas os mesmos não a incomodam. Meu, a mulher é SÍNDICA! Porra, quem votou nessa infeliz?

O Pablo é um ser estranho. Ou os amigos dele, não sei. Só sei que no dia seguinte havia garrafa PET e latinhas de cerveja (cerveja ruim, diga-se de passagem) tudo esparramado no jardim ao lado do prédio. Ah claro, e na marquise do prédio havia uma CUECA. Sim, uma cueca. O Pablo ou um dos convidados lunáticos dele perdeu uma cueca!

Eu não consigo me imaginar no dia seguinte, pós-balada, percebendo que perdi a calcinha. Pra um homem então, é muito mais difícil perder a cueca, penso eu, afinal, pouquíssimos usam saia, uma cueca não escorrega (simplesmente) pelas pernas e cai pela janela como se fosse uma caneta de padeiro presa à orelha!

Não demorou muito e o Pablo tomou uma multa. Bom, pelo menos eu acho que ele tomou, porque ele interfonou de apartamento em apartamento dizendo que ele não fazia barulho e quando meu marido foi argumentar dizendo que o som estava muito alto o Pablo disse:

- mas eu coloquei a caixa de som em cima da TV!

Muito bem, Pablo. Vou te explicar uma coisa. Não importa o volume da música quando você muda a caixa de som do lugar, ou seja, isso nem "inflói" nem "contribói" pra diminuir o som. Aliás, eu queria entender seu raciocínio: coloquei a caixa de som em cima da TV ...

É, não sei, talvez você precise desenhar...

Haja barbitúrico...

E o lazarento do Pablo continua com o seu bongô, que eu torço pra que perca o couro, toda santa noite...

2 comentários:

  1. Isso é ilário da um bom livro...
    Titulo: O inquilino eo Bongo...rsrsrsrsrs
    Eu compro hein!

    att:
    Ronaldo Secundo

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