terça-feira, maio 08, 2007

Álcool demais?

Numa certa manhã de ressaca ouvi da minha irmã: "O álcool destrói".

Destrói mesmo, mas pena que não apaga a memória. Pelo menos pra mim. Não sofro de amnésia alcoólica. Merda.



Aí, encontrei algo, um poema sobre o álcool, da Hilda Hilst. Tem mais um monte de coisa por lá.


É crua a vida. Alça de tripa e metal.

Nela despenco: pedra mórula ferida.

É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.

Como-a no livor da língua

Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me

No estreito-pouco

Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida

Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.

E perambulamos de coturno pela rua

Rubras, góticas, altas de corpo e copos.

A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.

E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima

Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.

(Alcoólicas - I)

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